Foto: Gregory Colbert
Caíra a noite...
Os nossos misteres de cada dia tinham sido cumpridos...
Nós pensávamos que tivesse chegado o último hóspede dessa noite e que na aldeia as portas estivessem todas fechadas...
Apenas alguém falou que o rei estava para chegar...
Nós rimos e dissemos: "Não, não pode ser!"...
Pareceu que houve pancadas na porta e nós dissemos que isso não era senão o vento. Apagamos as lâmpadas e deitamo-nos para dormir.
Apenas, alguém falou: "É o mensageiro!" Nós rimos e dissemos:
"Não; deve ser o vento!"
Houve um ruído no silêncio da noite. Nós sonolentamente pensamos que era a trovoada distante...
A terra estremeceu, as paredes abalaram-se, e isso perturbou o nosso sono...
Apenas, alguém falou que era um rodar de rodas. Nós dissemos num sonolento resmungo: "Não; isso deve ser o ronco rouco das nuvens!"
Estava ainda escura a noite, quando rufou o tambor...
Ouviu-se esta voz: "Despertai-vos! Não tardeis!"
Apertamos as mãos contra o coração e trememos de medo. Alguém falou: "Vede! Eis o estandarte do rei!" ...
Pusemo-nos de pé e exclamamos: "Não há tempo a perder!"
O rei chegou - mas onde estão as luzes, onde estão os diademas?
Onde está o trono onde deve sentar-se? Oh! vergonha, oh! suprema vergonha! Onde estão a sala, as alfaias?
Alguém falou: "É inútil essa lamentação!...
Saudai-o com as vossas mãos vazias, levai-o aos vossos aposentos vazios!"...
Abram-se as portas! soem as trompas!
Chegou, no fundo da noite, o rei da nossa casa escura e triste...
A trovoada ronca no céu. A sombra estremece de relâmpagos.
Traze para fora o teu farrapo de esteira e estende-o no pátio.
Chegou de repente, com a tempestade, o nosso Rei da noite pavorosa...
Este é um grandioso canto de amor a Deus.
Nele, Tagore revela toda a força da sua mística e da sua incansável busca de Deus. Este Deus que é tanto mais ansiado e procurado quanto mais se esconde.
Por isso, Tagore o denomina Senhor do silêncio. Eis aí a pedra de toque do poema tagoriano.
Em Tagore, Deus é uma figura paradoxal, porque, simultaneamente, se revela e se esconde. É algo assim como se Ele aparecesse sempre na semiobscuridade, num lusco-fusco em que só se dá a conhecer parcialmente.
“Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio, esperando, como a noite em sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada...
“Quando o trabalho tumultuoso espalhar por toda parte o seu ruído, isolando-me do além, vem a mim, Senhor do silêncio, com a tua paz e serenidade”...
Foto: Elena Kalis
TAGORE GITANJALI por Luiz Rodrigues
1 Comentários:
Meu querido filho e amigo Luiz Rodrigues, Parabemns pelas sua belíssia postagem para aqueles estudiosos como vc, que amam a arte, os grandes escritores, que seduz a todos com su brilhantismo. Bom demais fazer parte de suan lista seleta de amigos e segudores!!!!
Emocionate!!! Bjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjs,
ana kaye
Por Anônimo, às 29 de setembro de 2010 às 20:22
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