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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Foto: Gregory Colbert

Caíra a noite... 

Os nossos misteres de cada dia tinham sido cumpridos... 

Nós pensávamos que tivesse chegado o último hóspede dessa noite e que na aldeia as portas estivessem todas fechadas...

Apenas alguém falou que o rei estava para chegar...

Nós rimos e dissemos: "Não, não pode ser!"...


Pareceu que houve pancadas na porta e nós dissemos que isso não era senão o vento. Apagamos as lâmpadas e deitamo-nos para dormir. 


Apenas, alguém falou: "É o mensageiro!" Nós rimos e dissemos: 
"Não; deve ser o vento!"

Houve um ruído no silêncio da noite. Nós sonolentamente pensamos que era a trovoada distante... 

A terra estremeceu, as paredes abalaram-se, e isso perturbou o nosso sono...

Apenas, alguém falou que era um rodar de rodas. Nós dissemos num sonolento resmungo: "Não; isso deve ser o ronco rouco das nuvens!"

Estava ainda escura a noite, quando rufou o tambor...

Ouviu-se esta voz: "Despertai-vos! Não tardeis!" 

Apertamos as mãos contra o coração e trememos de medo. Alguém falou: "Vede! Eis o estandarte do rei!" ...


Pusemo-nos de pé e exclamamos: "Não há tempo a perder!"

O rei chegou - mas onde estão as luzes, onde estão os diademas? 
Onde está o trono onde deve sentar-se? Oh! vergonha, oh! suprema vergonha! Onde estão a sala, as alfaias? 

Alguém falou: "É inútil essa lamentação!...

Saudai-o com as vossas mãos vazias, levai-o aos vossos aposentos vazios!"...

Abram-se as portas! soem as trompas! 

Chegou, no fundo da noite, o rei da nossa casa escura e triste...

A trovoada ronca no céu. A sombra estremece de relâmpagos. 
Traze para fora o teu farrapo de esteira e estende-o no pátio. 

Chegou de repente, com a tempestade, o nosso Rei da noite pavorosa...


Este é um grandioso canto de amor a Deus. 

Nele, Tagore revela toda a força da sua mística e da sua incansável busca de Deus. Este Deus que é tanto mais ansiado e procurado quanto mais se esconde. 

Por isso, Tagore o denomina Senhor do silêncio. Eis aí a pedra de toque do poema tagoriano. 

Em Tagore, Deus é uma figura paradoxal, porque, simultaneamente, se revela e se esconde. É algo assim como se Ele aparecesse sempre na semiobscuridade, num lusco-fusco em que só se dá a conhecer parcialmente. 

“Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio, esperando, como a noite em sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada...

“Quando o trabalho tumultuoso espalhar por toda parte o seu ruído, isolando-me do além, vem a mim, Senhor do silêncio, com a tua paz e serenidade”...

                                                Foto: Elena Kalis

TAGORE GITANJALI por Luiz Rodrigues

1 Comentários:

  • Meu querido filho e amigo Luiz Rodrigues, Parabemns pelas sua belíssia postagem para aqueles estudiosos como vc, que amam a arte, os grandes escritores, que seduz a todos com su brilhantismo. Bom demais fazer parte de suan lista seleta de amigos e segudores!!!!
    Emocionate!!! Bjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjs,
    ana kaye

    Por Anonymous Anônimo, às 29 de setembro de 2010 às 20:22  

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