A identidade secreta do Meningite
Eu parei sem querer no Budega do Oscar. Parei para comprar um remédio prescrito por mim para a automedicação da minha mulher. Na verdade, eu vi o Douglas e resolvi tomar uma cerveja, que não conseguira tomar a tarde inteira. Nos perdíamos em filosofices do Almanaque Fontoura, quando apareceu o Côco, com sua moto, e o Meningite, com roupa de baile. Ambos sentaram a nossa mesa. Oferecemos cerveja, mas o Meningite tomava um uísque de segunda linha. Com sua voz de Azambuja, disse que era o dia mais feliz de sua vida. E a gente sem entender nada.
O Meningite é um dos personagens queridos desse meu diário de outrora, que sempre habitou minhas histórias. Ele tem uma verve, que sempre se acentua, por conta de sua voz baritonada.
Eu nunca conheci meu pai, e aí, quando foi em 96, minha mãe me falou e eu fui atrás dele... Começava aí uma viagem do Meningite em busca de seu passado. O primeiro contato de um bastardo com a sua essência.
O pai era diretor de um grande banco e a mãe, empregada dele. Houve um envolvimento, que resultou no Meningite. Depois de mais de 40 anos, ali estava ele diante da concretização do seu passado. O pai, por sua vez, foi peremptório: não queria saber! Mandou que ele buscasse seus direitos. O Meningite saiu de lá chutando pedra na rua, caminhando com suas certezas, revirando seu orgulho, chorando seco, pra não criar problema. O pai tinha outra família. E ele não queria confusão. Só queria ser reconhecido.
Passaram-se mais de dez anos. Num check-up, ele brincou com um médico homônimo e soube por ele que o pai estava doente, teria enfartado e estava safenado. De repente, o Meningite sentiu uma dor de perda, de coisa que não se tem, mas que vai tomando conta da gente, como uma moléstia. Resolveu passar aquilo a limpo. Um dia, voltou ao lugar, de onde anos atrás fora dispensado. Dispensado como quem sai do exército.
A infância do Meningite fora de buscar um rosto pro seu pai. Tentou vários rostos; revirava o passado e lembrava de coisas que não teria vivido se tivesse pai.
Hoje, casado, com filhos e netos a sua volta, dentro daquele balaio, que a gente balança e abraça; se vê novamente frente ao seu passado.
Fez contato com seus irmãos, filhos do pai; eles se reuniram e resolveram, junto com o pai, fazer um exame de DNA. Nem buscaram o Ratinho, que o Meningite hoje, tem a Ferpa.
O resultado, eu nem esperei... Nenhum dos filhos se parece tanto com o velho como o Meningite!
O Meningite tá feliz, e a gente chora de emoção, que ele vai mudar de nome, de filiação. Tá feliz que nem pinto no lixo. Prá nós, vai ser sempre o Meningite, neto da véia que lia a sorte no baralho.
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Texto de João Barbosa.
1 Comentários:
Joaõ Barbosa meu querido e amado escritor!!! Mais uma vez lhe agradeço a participação e honra de poder divulgar seu maravilhoso trabalho como escritor, uma referência brasileira na nossa literatura!! Sou muito sua fã, tenho-lhe o maior respeito profissional, e me encanto sempre com suas maravilhosaas crônicas!!! Parabéns e obrigada sempre pela sua querida presença. Aguardamos ansiosos pelo livro novo!!!! Bjjjjjjjjjjjjjjs
ana kaye
Por Anônimo, às 4 de novembro de 2010 às 05:01
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