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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Rehab... Adriano Duarte visita Ana Kaye...



Rehab

A Amy Vinícola (quero dizer Winehouse) foi embora. Conseguiu até cantar e terminar todos os shows, apesar de continuar precisando de reabilitação. Reabilitação será o tema de hoje.
Assim como eu, muita gente que não fuma, não usa drogas nem se entrega ao álcool, está exposta ao risco de dependência química e traumas. Todos nós podemos precisar de reabilitação um dia.
Pouco importa se o trauma foi gerado por um acidente provocado pelo bêbado na contramão enquanto você dirigia feliz e contente por uma estrada cheia de hortênsias, ou se foi o preço pago pelo risco de fazer aquela ultrapassagem perigosa ou passar pelo farol vermelho. O corpo sentirá todos os traumas e dores da mesma forma e o processo de reabilitação será o mesmo.
Eu não levo o menor jeito para medicina. Por isso, me limito a falar sobre os traumas do coração, talvez por acreditar que tenha alguma bagagem.
Milhares de médicos e fisioterapeutas formam-se todos os anos para tentar ajudar quem quebra um pé, um braço, a bacia ou o crânio. Mas, quem quebra a cara, ou melhor, machuca o coração, tem sua dor aliviada basicamente pelos amigos e pela família. Poucos têm o privilégio, como eu, de poder contar também com ajuda profissional.
 Quem machuca o coração deve passar por um processo de reabilitação como qualquer acidentado.
 Muitas cicatrizes ficam, algumas pessoas ficam inválidas, outras morrem. Mas, a grande maioria fica incapacitada temporariamente. Às vezes, o trauma nos faz reaprender a viver, nos ensina outras formas de fazer algumas coisas, e, principalmente, nos faz valorizar o que temos de bom e aquilo que realmente importa.

Percebi em mim, quando estava com o coração machucado, uma grande resistência em me recuperar, por sofrer de dependência química. Sentia crises de abstinência daquele beijo, daquele toque, daquele cheiro e daquele sexo.
Creio que muita gente viva sofrendo o que vivi e sofri. Por isso, resolvi escrever correndo o risco de me expor.
O sucesso da reabilitação do coração é muito parecido com o de uma fisioterapia, depende diretamente da vontade e empenho de quem precisa se recuperar.
É como o motociclista cheio de pinos na perna, louco de vontade de voltar a sentir o vento no rosto. Como o jogador lutando para voltar a jogar, por amor ao esporte, após aquela contusão maldosa. Como aquele bombeiro desesperado por não poder ajudar as vítimas das enchentes por ter quebrado a clavícula quando uma viga caiu sobre ele no momento em que tentava salvar uma mulher nos escombros duma casa.
Apesar da minha dependência química ter sido muito forte e trazido muito sofrimento, consegui após muito tempo e muito esforço passar pelo meu processo de reabilitação. Inclusive, afirmo, com conhecimento de causa, que vale muito a pena se esforçar para voltar a sentir o vento no rosto, se divertir praticando esporte ou outra atividade, e principalmente, estar com a mão estendida ao lado de alguém no momento em que ela mais precisa.

Me proporcionei, com entusiasmo, o direito de ser querido e amado.
Quando minha reabilitação acabou, voltei a sentir esperança e até euforia, que mesmo estando comedida pela experiência adquirida, não deixa de ser forte.
Neste momento, pergunto, olhando nos olhos, a você que leu até aqui, está com o coração machucado e pensando após se identificar com o que escrivinhei: Você quer voltar a ser capaz de amar? 
Ser feliz amando é um sonho que requer trabalho, determinação e coragem.

A Amy tem razão ao dizer que “as lágrimas secam sozinhas” na letra homônima que ela mesma ajudou a compor. 
Mesmo gostando e admirando o talento fora do tom da Amy, escolhi outra música para a trilha de hoje: 
“Everybody Hurts”, a obra prima do R.E.M., em minha opinião.
Gostou?
Até a próxima!

Adriano Duarte

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